NAVIOS QUEIMADOS



A política baiana está se movendo a chicotadas. Mas, não somente. Não são apenas com as estocadas de gládio (espada de dois gumes)desferidas nas declarações do governador Jaques Wagner e do ministro Geddel Vieira Lima que a roda gira e abarrota os bastidores com tricas e futricas. A carga é mais pesada. Por cima, o mar no qual os dois estão a nadar tem água lisa. Mas, por baixo, há correntes fortes e redemoinhos que mexem com um e com outro.

Wagner e Geddel têm posições claras. O governador é candidato à reeleição desde que entrou no governo, a não ser que os ventos (os fados dos portugueses) o levassem por outros mares para chegar a porto maior. Geddel Vieira Lima sempre teve como objetivo o governo da Bahia. A sua posição agora, após o rompimento da aliança, é inarredável, definitiva. É nesse ponto que o redemoinho petista tenta pegar no seu pé, entende ele, “com seus sussurros em cafuas e pés de escada”.

Bastava essa frase do ministro para quebrar qualquer enigmaque é posto, e transferido aos ventos para que o leve às diversas regiões da Bahia.

Geddel, no entanto, abre o leque para interpretar, na sua visão, a pretensão do PT baiano e dos governistas. Diz: “Eles procuram fórmulas e tentam me atingir, porque consideram que Paulo Souto é mais fácil de derrotar. Virão com o discurso batido da herança maldita contra o ex-governador.

Ambos, Souto e Wagner, são conhecidos dos baianos. O primeiro comdois mandatos realizados, e o governador com o que até aqui não fez, se é que o verbo fazer se aplica na frase”.

O PT se colocou em campo, segundo o ministro, na tentativa de desestabilizar a sua candidatura. “Ficam a dizer que serei chamado por Lula para uma conversa em Brasília; que vou retornar e colocar o PMDBde volta à aliança que já foi rompida e coisas assim”.

O ministro da Integração Nacional não considera a tática inteligente porque “já manifestei abertamenteas minhas divergências com o governo que não realiza na Bahia. Os projetos apresentados não são cumpridos, nada existe.

Eu, ao contrário, vejo com entusiasmo a minha candidatura e o futuro. Enquanto isso, elesquerem o DEM pararepetir o velho discurso”. Pergunta, então, o ministro e ele próprio responde: “O que dirão de mim? Ficarão com essa história boba, imbecil, da falta de lealdade? Não, eles querem estabelecer o litígio imaginando que é mais fácil derrotar pela segunda vez PauloSouto, só que agora a Bahia conhece os dois: conhece Souto e conhece Wagner. A desilusão pode ser maior em relação ao atual governante pela frustração que está a acarretar nos baianos”.

E se põe no cenário: “Eu, no entanto, sou o novo diante de duas forças velhas, conhecidas.

Wagner quer fazer a sua campanha olhando no retrovisor, para enxergar Paulo.

Não quer olhar para frente, para o futuro, porque nesse plano ele me encontrará. Sabe que eu falo uma linguagem nova, de trabalho. De mudar esta Bahia que retorna às portas do atraso.” Queimando os seus navios, Geddel só põe o ex-governador Paulo Souto no seu discurso em relação à sua certeza de que o Wagner e o PT o consideram mais fácil dederrotar.Para ele, não adianta os petistas tentarem atingi-lo “porque go devem saber, e todos sabem, que a eleição do próximo ano será de dois turnos”.

Para o ministro, o fato de ele ser alvo do PT apenas o deixa mais forte, “porque é assim que eu avanço, conversando com a Bahia, como o farei quando a campanha estiver aberta, expondo projetos e não explicando o que eu não fiz. Conversar com a sociedade é o mínimo que tenho a oferecer, é a alternativa de pôr o meu nome numa eleição de dois turnos”. Para demonstrar que não existe a mínima possibilidade de recomposição, diz que “o governo está mergulhado na letargia, no não-fazer, por isso contraponho com a minha verdade: aos 50 anos de idade, tudo o que eu tenho que fazer é ousar.

E vou ousar sempre, porque faz parte de mim”.

Pelas declarações do ministro, numa explanação aberta sobre o momentoda sucessão estadual, vê-se que ele quer ir para uma disputa (sempre na tese de eleição em dois turnos) com o governador Jaques Wagner enão pretende envolver (diz que não está nos seus propósitos) a política nacional, a sucessão presidencial.

Que, aliás, ganhou novo formato tanto no PSDB, com a definição de Aécio de não ir para uma disputa com Serra junto às bases do partido quanto a decisão de Serra emtirar,com declaração aberta, o prefeito paulistano Gilberto Kassab da corrida sucessória do Estado (abrindo o seu apoio a Geraldo Alckmin). Evita, desta forma, ter problemas mais tarde com o DEM, partido de Kassab.

No PT, Dilma Rousseff volta à liça e passará a viajar comLula para tentar estancar a perda de densidade, já demonstrada na pesquisa recente do CNT/Sensus.

Aliás, o ministro Geddel não demonstra preocupações com a sucessão nacional.Para ele, o seu campo de combate é a Bahia, “e nessa batalha eu vou me expor, porque sou transparente, dizer o que os baianos querem ouvir e construindo projetos que ponham o Estado onde deveria estar, e não na rabada de Pernambuco”.

Nesse ponto, Geddel Vieira Lima faz uma pausa e me pergunta se eu li a pauta da programação de Lula quando estevena semana passada em Pernambuco. Minha resposta foi negativa. Respondeu ele para não dizer mais nada: “Se quiser, eu mando para você, se tiver interesse em publicar.

A agenda estava repleta de inaugurações com a presença do governador Eduardo Campos e do presidente. Aqui, se inaugura casa de farinha e se faz festa para entregar uma mera ambulância”.

É, as águas parecem calmas na superfície, mas, por baixo, há correntes em movimento.

Quentes e frias. Para onde vão, impossível dizer.

Por Samuel Celestino.