DE VOLTA AO PASSADO NA F1: FERRARI MANDA MASSA DEIXAR ALONSO ULTRAPASSÁ-LO.


Ferrari volta aos tempos de Barrichello e Shumacher e por rádio pede para Felipe Massa deixar Fernando Alonso ultrapassá-lo, massa quase teve que parar sua Ferrari para o Espanhol passar a sua frente.

Confesso que gostaria de escrever sobre o que aconteceu dentro da pista, falar da reação dos carros da Ferrari e do bom desempenho de Massa e Alonso com os pneus duros. Mas não dá. O GP da Alemanha acabou se transformando em uma daquelas páginas negras na história da Fórmula 1, assim como o GP da Áustria de 2002 (quando Barrichello recebeu ordens para deixar Schumacher passar na reta de chegada). Infelizmente, mais uma corrida da categoria foi decidida na canetada. Ou melhor, pelo rádio. A Ferrari usou mais uma vez do jogo de equipe para decidir o vencedor de uma prova. Até entendo a decisão – pautada pela pontuação dos pilotos no campeonato – mas não posso concordar com ela de maneira alguma. Não dá para salvar ninguém nesta decisão: equipe, pilotos e comissários são culpados. Um absurdo em Hockenheim.

Desta vez, toda a atitude da Ferrari foi acintosa. Como a partir desta corrida todas as comunicações por rádio estavam liberadas para a transmissão oficial, as conversas da equipe italiana foram exibidas sem censura para todo o mundo. Alonso foi o primeiro a ser exposto na TV. Como Massa estava na ponta e tinha dificuldades para aquecer os pneus duros, o espanhol tentava a ultrapassagem, mas o brasileiro defendia com ímpeto. Ele reclamou com seu engenheiro nos boxes e chamou a atitude de “ridícula”. Após esta pressão, Massa conseguiu abrir uma boa vantagem. A partir da 40ª volta, o bicampeão voltou a se aproximar da outra Ferrari.

Então começou a segunda parte da novela do rádio. Falando pausadamente, Rob Smedley, engenheiro de Massa, informou que Alonso estava mais rápido e pediu que o brasileiro confirmasse o entendimento da mensagem. Na 49ª volta, o brasileiro quase parou seu carro na pista para que o bicampeão o ultrapassasse. Relegado à segunda posição, Felipe chegou a receber um pedido de desculpas de Rob Smedley.

Com o problema “resolvido”, a Ferrari conseguiu sua segunda dobradinha da temporada 2010, mas o incidente seria investigado pelos comissários. Uma hora e meia depois, eles anunciaram uma rídícula punição de US$ 100 mil (cerca de R$ 178 mil), mas o caso ainda será levado ao Conselho Mundial da FIA. Para mim, ficou muito barato. Era caso para, no mínimo, desclassificar os dois pilotos e aplicar uma punição maior para a equipe, como uma suspensão ou até mesmo uma multa milionária, que realmente fizesse diferença no bolso ferrarista.

Como já disse, não dá para isentar ninguém neste caso. Massa, obrigado a ceder a posição para Alonso, também tem sua parcela. Primeiro, ele obedeceu a ordem do time e não reclamou nas entrevistas pós-corrida. Depois, o brasileiro, indiretamente, acabou ficando preso na própria “armadilha”. O desempenho dele não é dos melhores neste ano (entre azares e problemas na adaptação ao carro) e a Ferrari só resolveu favorecer o espanhol porque a diferença entre ambos era muito grande no campeonato. Depois, esta atitude, por mais que ele negue a ordem, contraria tudo o que ele disse desde a chegada de Alonso no time: de que não seria o segundo piloto. Após Hockenheim, Massa assume oficialmente a posição de escudeiro do espanhol em 2010.

A Ferrari e Alonso, sem dúvidas, são os maiores culpados neste caso. A equipe parecia ter abandonado a postura de privilegiar um piloto, apenas adotando-a em casos extremos, como uma decisão de título. Mas este está longe de ser um exemplo disso. A decisão foi precipitada e depõe muito contra a imagem do time italiano. Já Alonso adotou uma postura completamente errada nesta corrida. Ao reclamar que Massa estava bloqueando seu caminho, ele perdeu completamente a razão. Para piorar, depois da corrida, comemorou como se nada tivesse acontecido. Não é uma postura que se espera de um piloto duas vezes campeão do mundo na F-1.

E ainda tem o seguinte: depois do GP da Europa, em Valência, a Ferrari e Alonso reclamaram de manipulação na corrida após a demora em punir Lewis Hamilton. O que dizer disso agora? Não foi manipulação? Mas agora a equipe italiana foi a responsável e a beneficiada pela armação. Cadê as declarações infladas do espanhol? Luca di Montezemolo e Stefano Domenicali irão reclamar? É claro que não.

Para encerrar, não acredito em punição esportiva na reunião do Conselho Mundial, que ainda não tem data para acontecer. Acho que o valor da multa será aumentado sim, até porque o atual parece uma piada sem graça. Defendo a desclassificação de ambos os pilotos, mas conheço a politicagem que envolve as decisões da FIA. Com o argumento de não “prejudicarem o campeonato”, a Ferrari escapará ilesa. É o que sempre acontece. Aliás, quem é o presidente da FIA mesmo? Jean Todt. Acho que vocês entenderam a mensagem…